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Empatia

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Entre nós, existe uma enorme dificuldade, entre tantas. Temos dificuldade de ter empatia. Temos dificuldade de nos colocar no lugar do outro. Ou seja, compreender melhor o comportamento alheio em determinadas circunstâncias e a forma como outro toma as decisões. E, tentando ir um pouco além, entender da história dos outros, seus amores, suas crenças e suas dores.

Sempre, toda a escolha pode ter consequências imprevisíveis. Sempre, o futuro é incerto e o presente, bem, é o presente e, em um segundo, já é passado. Por isso, o desafio de se colocar no lugar do outro e buscar entendê-lo é realmente assustador e amedronta até os que não estão acostumados a sair da sua zona de conforto. O mundo, de repente, para por causa de um vírus. Parece que não morremos mais de câncer, não enfartamos, não temos nada para nos preocupar além do coronavírus. Trancados em nossas casas, não conseguimos imaginar nada ou quase nada diferente de nós e do fato de estarmos ali trancados. Nada que não possamos apalpar, olhar, cheirar, ouvir ou que nos seja mostrado pelos meios de comunicação.

Vamos fazer um exercício mental. Hoje, eu sou o feirante, que não vendeu nada. Sou uma mãe que não tem nada a oferecer para o filho faminto. Sou o homem de 50 anos que nunca teve medo de morrer e, agora, pensa nessa possibilidade. Sou a criança trancada em casa que não entende o que está passando. Sou o lojista que vê seu patrimônio e seu trabalho indo para o ralo. Sou o médico que entuba com medo e espera que não precise nunca ter de fazer escolhas de Sofia. Sou a enfermeira que enfrenta seu cansaço e isolamento, sou a menina da limpeza que enfrenta o desconhecido. Sou a mulher deprimida, entediada. Sou o homem sozinho, sem amigos. Sou a prostituta sem clientes. Sou a vendedora de pastéis nos pontos de táxi. Sou a idosa com demência que não entende por que todos não vão mais no lar e as pessoas não a abraçam. Sou a solitária que se fazia feliz com o movimento alheio. Sou o educador que se reinventa e agora tem tempo para pensar sobre até as coisas mais banais. Sou o amigo que gostaria de abraçar. Sou a aniversariante que tem seus sonhos adiados, a noiva que tem de esperar, a viagem que não sei se vou realizar. Sou o endividado que tem contas sem ter como pagar.

Sou o gestor com uma enorme responsabilidade e com lágrimas que não tem com quem compartilhar. Sou o irresponsável, interesseiro que não quer tempo para pensar, mas o vírus também pode pegar, sou quem acha que vai ganhar. Sou o que está isolado, triste, esquecido. Sou a filha, o filho que cuida. Sou o acadêmico que é voluntário. Sou o voluntário que carrega e distribui as cestas básicas por lugares onde nunca trilhou. Sou o que está paralisado com a possibilidade de morrer. Sou a mãe, o pai, o filho, o irmão que não pode se despedir. Sou o catador que não encontrou caixas de papelão, nem as garrafas de pets. Sou o padre, o rabino, o pastor, a freira, o pai de santo, o monge, o mentor, o espiritualista, sou o vidente, o crente, sou todos que, com suas crenças, pedem ou oram para que tudo melhore, para que a humanidade consiga a cura deste vírus ou o tratamento, enfim sou todos que têm fé e rezam. Hoje sou qualquer um conhecido ou desconhecido, amado ou odiado. Por um momento, nossos sentimentos humanos, de amor e acolhimento, tomaram conta de nós e permitem que nos vejamos, que tenhamos um pouco de empatia, um pouco de amor para com o próximo, que está lá na China ou ao nosso lado.

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